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terça-feira, 27 de abril de 2010

VALORES NA ECONOMIA PÓS-CRISE




VALORES NA ECONOMIA PÓS-CRISE

Frei Betto

A crise financeira desencadeada a partir de setembro de 2008 exige, de todos, profunda reflexão e mudança de atitudes. Ela encerra uma crise mais profunda: a do modelo civilizatório. O que se quer: um mundo de consumistas ou um mundo de cidadãos?

Frente às oscilações do mercado agiram os governos. A mão invisível foi amputada pelos fatos. A destrambelhada desregulamentação da economia requereu a ação regulamentadora dos governos. O mercado, entregue a si mesmo, entrou em parafuso e perdeu de vista os valores éticos para se fixar apenas nos valores monetários. Foi vítima de sua própria ambição desmedida.

A crise nos impõe, hoje, mudanças de paradigmas. O que significa a robustez dos bancos diante da figura esquálida de 1 bilhão de famintos crônicos? Por que, nos primeiros meses, os governos do G8 destinaram cerca de US$ 1,5 trilhão (até hoje, já são US$ 18 trilhões) para evitar o colapso do sistema financeiro capitalista e apenas (prometeram em L’Aquila, ainda não cumpriram) US$ 20 bilhões para amenizar a fome no mundo?

O que se quer salvar: o sistema financeiro ou a humanidade?

Uma economia centrada em valores éticos tem por objetivo, em primeiro lugar, a redução das desigualdades sociais e o bem-estar de todas as pessoas. Sabemos que, hoje, mais de 3 bilhões – quase metade da humanidade – vivem abaixo da linha da pobreza. E 1,3 bilhão abaixo da linha da miséria. A falta de alimentação suficiente ceifa, por dia, a vida de 23 mil pessoas. E 80% da riqueza mundial encontram-se concentradas em mãos de apenas 20% da população do planeta.

Sem alterar esse panorama a humanidade caminhará para a barbárie. Os governos deveriam estar mais preocupados com o crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do que com o aumento do PIB (Produto Interno Bruto). O que importa, hoje, é a FIB (Felicidade Interna Bruta). As pessoas, em sua maioria, não querem ser ricas, querem ser felizes.

A crise nos faz perguntar: que projeto de sociedade legaremos às futuras gerações? Para que servem tantos avanços científicos e tecnológicos se a população não conta com serviços de saúde acessíveis e eficazes; educação gratuita e de qualidade; transporte público ágil; saneamento básico; moradia decente; direito ao lazer?

Não é ético e, portanto, humano, um sistema que privilegia o lucro privado acima dos direitos comunitários; a especulação à frente da produção; o acesso ao crédito sem o respaldo da poupança. Não é ético um sistema que cria ilhas de opulência cercadas de miséria por todos os lados.

Uma ética para o mundo pós-crise tem como fundamento o bem comum acima das ambições individuais; o direito de o Estado regular a economia e assegurar a toda a população os serviços básicos; o cultivo dos bens infinitos, espirituais, mais importante que o consumo de bens finitos, materiais.
A ética de um novo projeto civilizatório incorpora a preservação ambiental ao conceito de desenvolvimento sustentável; valoriza as redes de economia solidária e de comércio justo; fortalece a sociedade civil organizada como normatizadora da ação do poder público.

O velho Aristóteles já ensinava que o bem maior que todos buscamos – até ao praticar o mal – não se encontra à venda no mercado: a própria felicidade. Ora, o mercado, não tendo como transformar este bem num produto comercializável, procura nos incutir a convicção de que a felicidade resulta da soma dos prazeres. Ilusão que provoca frustração e dilata o contingente de fracassados espirituais reféns de medicamentos antidepressivos e drogas oferecidas pelo narcotráfico.

O pior de uma crise é nada aprender com ela. E, no esforço de amenizar seus efeitos, não se preocupar em suprimir suas causas. Talvez as religiões não tenham respostas que nos ajudem a encontrar novos valores para o mundo pós-crise. Mas com certeza a tradição espiritual da humanidade tem muito a dizer, pois é na espiritualidade que a pessoa se enxerga e se mede. Ou, na falta dela, se cega e se atola. O ser humano tem sede de Absoluto.

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Faço apenas um passeio socrático.” Diante de olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Apenas observo quanta coisa existe que não preciso para ser feliz.”

PS: texto escrito a pedido do Fórum Econômico Mundial, 2010, de Davos.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.

Fonte: http://www.cesep.org.br/


sexta-feira, 23 de abril de 2010

O longo silêncio


O longo silêncio


A pequena peça de teatro intitulada "O Longo Silêncio", diz tudo:

No fim dos tempos, bilhões de pessoas estavam espalhadas numa grande planície perante o trono de Deus.

A maioria fugia da luz brilhante que se lhes apresentava pela frente. Mas alguns grupos falavam animadamente — não com vergonha abjeta, mas com beligerância.

"Pode Deus julgar-nos? Como pode ele saber acerca do sofrimento?" perguntou uma impertinente jovem de ca­belos negros. Ela rasgou a manga da blusa e mostrou um número que lhe fora tatuado num acampamento de con­centração nazista. "Nós suportamos terror. . . espanca­mentos. . . tortura. . . morte!"

Em outro grupo um rapaz negro abaixou o colarinho. "E que dizer disto?" exigiu ele, mostrando uma horrível quei­madura de corda. "Linchado. . . pelo único crime de ser preto!"

Em outra multidão, uma colegial grávida, de olhos mal­criados. "Por que devo sofrer?", murmurou ela. "Não foi culpa minha."

Por toda a planície havia centenas de grupos como esses. Cada um deles tinha uma reclamação contra Deus por causa do mal e do sofrimento que ele havia permitido no seu mundo. Quão feliz era Deus por viver no céu onde tudo era doçura e luz, onde não havia choro nem medo, nem fome nem ódio. O que sabia Deus acerca de tudo o que o homem fora forçado a suportar neste mundo? Pois Deus leva uma vida muito protegida, diziam.

De modo que cada um desses grupos enviou o seu líder, escolhido por ter sido o que mais sofreu. Um judeu, um negro, uma pessoa de Hiroshirna, um artrítico horrivel­mente deformado, uma criança talidomídica. No centro da planície tomaram conselho uns com os outros. Finalmente estavam prontos para apresentar o seu caso.

Antes que pudesse qualificar-se para ser juiz deles, Deus deve suportar o que suportaram. A decisão deles foi que Deus devia ser sentenciado a viver na terra — como ho­mem!

"Que ele nasça judeu. Que haja dúvida acerca da legi­timidade de seu nascimento. Dê-se-lhe um trabalho tão difícil que, ao tentar realizá-lo, até mesmo a sua família pensará que ele está louco. Que ele seja traído por seus amigos mais íntimos. Que ele enfrente acusações falsas, seja julgado por um júri preconceituoso, e condenado por um juiz covarde. Que ele seja torturado.

"Finalmente, que ele conheça o terrível sentimento de estar sozinho. Então que ele morra. Que ele morra de tal forma que não haja dúvida de que morreu. Que haja uma grande multidão de testemunhas que o comprove."

E quando o último acabou de pronunciar a sentença, houve um longo silêncio. Ninguém proferiu palavras. Nin­guém se moveu. Pois, de súbito, todos sabiam que Deus já havia cumprido a sua sentença.



(STOTT, John. A Cruz de Cristo. Editora Vida, 2000. São Paulo, SP.)



“Eu mesmo jamais poderia crer em Deus, se não fosse pela cruz. O único Deus em que creio é o que Nietzsche ridicularizou como o "Deus da cruz". No mundo real da dor, como se pode adorar um Deus que seja imune a ela? Já entrei em muitos templos budistas em diferentes países da Ásia e parei respeitosamente ante a estátua de Buda, as pernas e os braços cruzados, os olhos fechados, o fantasma de um sorriso a brincar em torno dos lábios, um olhar distante, isolado das agonias do mundo. Mas cada vez, depois de algum tempo, tive de me virar. E, na imaginação, voltei-me para aquela figura solitária, retorcida e torturada na cruz, os cravos atravessando as mãos e os pés, as costas laceradas, os membros deslocados, a fronte sangrando por causa dos espinhos, a boca intoleravelmente sedenta, lançada nas trevas do abandono de Deus. É esse o Deus para mim! Ele deixou de lado a sua imunidade à dor. Ele entrou em nosso mundo de carne e sangue, lágrimas e morte. Ele sofreu por nós. Nossos sofrimentos tornam-se mais manejáveis à luz dos seus. Ainda há um ponto de interrogação contra o sofrimento humano, mas em cima dele podemos estampar outra marca, a cruz, que simboliza o sofrimento divino. "A cruz de Cristo. . . é a única autojustificação de Deus em um mundo como o nosso."” (Jonh Sttot – A cruz de Cristo).





quarta-feira, 21 de abril de 2010

DEUS




Deus
Casimiro de Abreu

Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia,
A branca espuma para o céu sereno.


E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver de maior do que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?"


Minha mãe a sorrir, olhou pros céus
E respondeu: - Um ser que nós não vemos,
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.







quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Mesa do velho avô - Ilustração


A Mesa do velho avô

Uma reflexão para Pais e Mães.

Um frágil e velho homem foi viver com seu filho, nora, e o seu neto mais velho de quatro anos. As mãos do velho homem tremiam, e a vista era embaralhada, e o seu passo era hesitante.

A família comeu junto à mesa. Mas as mãos trêmulas do avô ancião e sua visão falhando, tornou difícil o ato de comer. Ervilhas rolaram da colher dele sobre o chão. Quando ele pegou seu copo, o leite derramou na toalha da mesa. A bagunça irritou fortemente seu filho e nora:

"Nós temos que fazer algo sobre o Vovô," disse o filho.
"Já tivemos bastante do seu leite derramado, ouvindo-o comer ruidosamente, e muita de sua comida no chão".

Assim o marido e esposa prepararam uma mesa pequena no canto da sala.

Lá , Vovô comia sozinho enquanto o resto da família desfrutava do jantar.

Desde que o Avô tinha quebrado um ou dois pratos, a comida dele foi servida em uma tigela de madeira. Quando a família olhava de relance na direção do Vovô, às vezes percebiam nele uma lágrima em seu olho por estar só.

Ainda assim, as únicas palavras que o casal tinha para ele eram advertências acentuadas quando ele derrubava um garfo ou derramava comida.

O neto mais velho de quatro anos assistiu tudo em silêncio. Uma noite antes da ceia, o pai notou que seu filho estava brincando no chão com sucatas de madeira. Ele perguntou docemente para a criança, "O que você está fazendo? "Da mesma maneira dócil , o menino respondeu: " Oh, eu estou fabricando uma pequena tigela para Você e Mamãe comerem sua comida quando eu crescer." O neto mais velho de quatro anos sorriu e voltou a trabalhar.

As palavras do menino golpearam os pais que ficaram mudos. Então lágrimas começaram a fluir em seus rostos.

Entretanto nenhuma palavra foi falada, ambos souberam o que devia ser feito. Aquela noite o marido pegou a mão do Vovô e com suavidade o conduziu para a mesa familiar.

Para o resto de seus dias de vida ele comeu sempre com a família. E por alguma razão, nem marido nem esposa pareciam se preocupar mais quando um garfo era derrubado, ou leite derramado, ou que a toalha da mesa tinha sujado.

As crianças são notavelmente perceptivas. Os olhos delas sempre observam, suas orelhas sempre escutam, e suas mentes sempre processam as mensagens que elas absorvem. Se elas nos vêem pacientemente providenciar uma atmosfera feliz em nossa casa, para nossos familiares, eles imitarão aquela atitude para o resto de suas vidas.

O pai sábio percebe isso diariamente, que o alicerce está sendo construído para o futuro da criança.

Sejamos sábios construtores de bons exemplos de comportamento de vida em nossas funções. (leia Dt. 6)

Lembre-se também do Mandamento que Deus nos deixou : "Honra o teu pai e tua mãe para que se ......" ( Êx. 20:12 ).












domingo, 11 de abril de 2010

O Caminho de Jesus



O Caminho de Jesus


Atos 10. 38

“Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”.


O texto acima se refere ao Jesus humano.

Jesus, Deus encarnado.

Jesus dependente de Deus!


Note bem, o verso denomina Jesus de NAZARENO (de Nazaré) apontando uma região geograficamente localizável. Apontando uma origem.

Deus não tem origem, pois ele é Eterno! Deus não pode estar preso geograficamente a um lugar especifico, pois ele é Onipresente!

O texto trata de um homem que precisou da unção de Deus – o Espírito Santo.

Deus não precisa de unção, pois ele é o doador da unção, ele é a unção.

Quando Deus veio habitar entre os homens, ele se despojou da sua divindade, e assumiu plenamente a forma humana – sem deixar de ser divino.


Filipenses 2. 6 – 8.

“que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se {ou despojou-se} a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz.”


Jesus, homem, sendo Deus, mas não fazendo uso de sua divindade, mas estando plenamente humano, andou entre nós fazendo uma coisa – O BEM!


Estava em comunhão com o Espírito de Deus, da mesma forma que nós podemos estar, ou seja, usando o mesmo canal que é possível a qualquer homem.


Através desse canal ele teve a força necessária. A arma mais poderosa do universo.


E como homem, fez o bem, desafiando o império do mal, curando os oprimidos do diabo, pois Deus era com ele.


Note, que expressão forte da humanização de Jesus, ou ainda, do seu não uso dos atributos divino. “Deus era com ele”! Ele precisou ter Deus consigo, apesar de em seu ser ele ser Deus!


João 14.10

“Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras”


O maior bem que Deus fez para a humanidade não foi em sua forma divina, mas na forma humana, pois como homem ele tornou-se acessível, e destruiu as obras do diabo – o pecado, a dor, a destruição, a morte!


I João 3.8

“...o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo”


Se manifestou, ou seja, se humanizou.


O caminho de Jesus – Humanizado – foi a prática do bem.

Foi um caminhar libertador.

Foi um caminhar que destruía as obras da maldade.

Por onde ele andava as pessoas se sentiam próximas de Deus, apesar não verem Deus, mas um humilde nazareno.

Deus caminhou entre nós... mas como nós, sendo um de nós,...

próximo de nós, ele nos tornou próximos dEle.


A IGREJA, não tem que se divinizar, subir até o céu, se tornar poderosa na Terra, fazer coisas que só Deus pode fazer...

Não

A igreja só precisa caminhar como Deus caminhou entre os homens: sendo homem, sentindo a dor humana, mas levando a libertação para o oprimido.

A igreja, só precisa caminhar após seu Mestre.

Dependendo do Espírito de Deus, mas sendo humana, pois “nós plantamos e semeamos, mas Deus dá o crescimento” I Co 3. 7

Para vencer o diabo e suas obras não é preciso ser divino, mas ser humano com a presença de Deus.

A igreja precisa ser tão humana que as pessoas se sentirão a vontade nela; se sentirão acolhidas, queridas e abrigadas.

Se a igreja querer ser divina, não poderá abrigar as pessoas, pois ficará inatingível.

Mas se a igreja for como Jesus, revelará o verdadeiro ser humano que Deus projetou na sua criação – o homem à sua imagem e semelhança.


Ainda hoje Deus se humaniza e se aproxima das pessoas, através de pessoas que seguem os passos de Jesus.


"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se {ou despojou-se} a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz." (Filipenses 2. 5 - 8)


(Alexandre Leite Marques Brandão)


terça-feira, 6 de abril de 2010

Entrevista com Martinho Lutero



Entrevista com Martinho Lutero

Esta é uma entrevista fictícia feita com o reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546) na cidade de Wittenberg, no ano do lançamento da primeira edição da Bíblia por ele traduzida (1534).

Embora fictício, o texto é baseado na história. As respostas oferecidas pelo mais famoso vulto da Reforma Religiosa do século 16, que aparecem entre aspas, são da autoria dele mesmo e foram retiradas de seus próprios escritos, reunidos no volume 5 de “Martinho Lutero — Obras Selecionadas”, publicado no Brasil em 1995.

Nesta entrevista, o leitor perceberá que os problemas sociais de hoje são iguais aos da Europa de 500 e poucos anos atrás, inclusive na constatação de que os ricos tornam-se cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres, no Brasil, nos Estados Unidos e em quase todos os demais países. O entrevistado é chamado de “doutor” porque assim se dirigiam a ele. Seu doutorado em Escrituras Sagradas foi obtido na Universidade de Wittenberg em outubro de 1512, um mês antes de ele completar 29 anos.

Repórter – O doutor publicou o “Pequeno Sermão sobre a Usura”, no final de 1519, e o “Grande Sermão sobre a Usura”, no início do ano seguinte. Qual a diferença entre os dois tratados?

Lutero – Não fui eu quem os chamei de “pequeno” e “grande”. São duas edições de um mesmo opúsculo. A única diferença entre um e outro é que o tratado de 1520 é uma reedição consideravelmente ampliada do tratado anterior. A segunda edição do “Sermão sobre a Usura” foi lançada por causa da repercussão que o escrito teve aqui em Wittenberg e em Leipzig.

Repórter – Qual era a sua idade na época?

Lutero – Eu tinha acabado de completar 36 anos. Era professor de Bíblia na Universidade de Wittenberg e ainda não havia sido excomungado pelo papa.

Repórter – O que o levou a escrever sobre comércio e usura?

Lutero – Desde a metade do século passado, está havendo uma grande expansão da manufatura, principalmente na fabricação de armas, tecidos, vidros e metais. O acúmulo de capital experimenta um crescimento enorme. Com a descoberta e a colonização do Novo Mundo, o comércio tem se expandido descontroladamente. O que se vê hoje é o empobrecimento progressivo de famílias com rendimentos modestos e o enriquecimento excessivo de poucos. A poderosa casa bancária dos Fugger, em Augsburgo, por exemplo, está financiando a invasão e a conquista da América. Foram eles quem bancaram a candidatura de Carlos V, sucessor do imperador Maximiliano I. “É preciso saber que, em nossos dias, a ganância e a usura não apenas se instalaram imensamente em todo o mundo, mas que alguns também se atreveram a descobrir alguns subterfúgios sob os quais podem praticar livremente sua maldade sob o manto da justiça. Chegamos quase ao ponto de já não fazermos mais nenhum caso do santo Evangelho. Escrevi esses sermões e outros, porque é necessário que, nestes tempos perigosos, cada qual se previna e proceda com discernimento no trato com bens temporais, observando com atenção o Evangelho de Cristo, nosso Senhor.”

Repórter – O doutor crê que esses sermões sobre a usura vão surtir algum efeito?

Lutero – “Creio até que este meu escrito será quase em vão, uma vez que a desgraça se instalou profundamente e tomou conta em toda parte. No entanto, tenho sido solicitado e exortado a tratar destas questões financeiras e pôr a descoberto algumas delas — embora muitos preferissem que não o fizesse — para que pelo menos alguns, por menor que seja o número, sejam resgatados da voragem e goela da ganância. Provavelmente alguns que pertencem a Cristo, preferem ser pobres com Deus a serem ricos com o diabo, como diz o Salmo 37.16. Por amor a esses, portanto, precisamos falar.”

Repórter – O doutor está afirmando que o cristão não deve exercer a profissão de comerciante?

Lutero – “Não se pode negar que comprar e vender são atividades necessárias. Não podem ser dispensadas, mas podem ser praticadas de forma cristã, especialmente em relação às coisas necessárias e honrosas. Os patriarcas venderam e compraram gado, lã, cereais, manteiga, leite e outros bens. São dádivas de Deus, que Ele concede da terra e reparte entre os seres humanos. No entanto, o comércio exterior, aquele que traz mercadorias de Calcutá, da Índia e de outros lugares estrangeiros, não deveria ser permitido. Esse comércio traz seda preciosa, ourivesaria e especiarias, que somente servem de ostentação e não têm utilidade, sugando o dinheiro do país e das pessoas.”

Repórter – No seu modo de entender, existe alguma regra que disciplina a ganância?

Lutero – “Os comerciantes têm uma regra comum entre si, que é seu lema principal e fundamento de todo negócio. Eles dizem: “Posso vender minha mercadoria tão caro quanto puder”. Acham que este é um direito deles. Aí se dá espaço à ganância e se abrem todas as portas e janelas para o inferno. Desta maneira o comércio não pode fazer outra coisa, senão pilhar e furtar as posses dos outros. A regra não deveria ser: ‘Posso vender minha mercadoria tão caro quanto puder ou quiser” mas “Posso vender minha mercadoria tão caro quanto eu devo ou quanto é correto e justo’. A forma mais adequada e segura seria que a autoridade governamental nomeasse pessoas sensatas e honestas que avaliassem todos os tipos de mercadoria quanto a seus custos e estabelecessem, a partir daí, o preço máximo que elas deveriam custar. Nós, alemães, porém, temos que beber e dançar e não podemos dedicar-nos à elaboração de tal regulamentação.”

Repórter – No “Sermão sobre a Usura”, o doutor condena a prática da fiança, pela qual alguém abona uma obrigação alheia. Pode comentar o assunto?

Lutero – “Mesmo que a fiança pareça isenta de pecado e uma virtude de amor, ela geralmente arruína muitas pessoas, infligindo-lhes prejuízo insuperável. O rei Salomão proibiu essa prática em diversas ocasiões, como se pode ver em Provérbios (6.1-5; 20.16; 22.26 e 27.13). A Escritura prescreve que não se deve confiar em pessoa alguma, nem fiar-se nela, mas somente em Deus. Pois a natureza humana é falha, frívola, mentirosa e incerta, como diz a Escritura e como também a experiência o ensina diariamente.”

Repórter – O doutor nunca se tornou fiador de alguém?

Lutero – Bem, lembro-me de ter sido fiador de algumas pessoas necessitadas que obtiveram crédito na caixa comunitária em Wittenberg. Por causa disso cheguei a dever 100 florins no ano de 1527. Fui obrigado a penhorar três taças pelo valor de 50 florins. Aflito, pedi desculpas a Deus pela minha imprudência e roguei que Ele me libertasse novamente.

Repórter – 100 florins é muito dinheiro?

Lutero – Com menos da metade desse valor eu posso comprar um terreno na periferia de Wittenberg. Nós, professores da universidade, estamos ganhando entre 100 e 200 florins por ano.

Repórter – O doutor declara que o comércio está cheio de “diversos expedientes malignos” e “truques financeiros perniciosos”. Pode explicar melhor?

Lutero – Nada me custa “relatar aqui algumas dessas espertezas e fraudes que eu mesmo observei, ou que me foram denunciadas por corações bons e honestos. Em primeiro lugar, alguns não têm problema de consciência em vender sua mercadoria mais cara a prazo do que à vista. Eles nem aceitam vender mercadoria à vista, mas apenas a prazo, só para terem lucro maior. Em segundo lugar, existem aqueles que vendem sua mercadoria acima da cotação da praça. Elevam os preços só porque sabem que essa mercadoria não existe mais na região ou dentro de pouco não mais será fornecida. Eis aí um olho malicioso da ganância, que se fixa na necessidade do próximo, não para supri-la, mas somente para aproveitar-se dela e enriquecer-se com o prejuízo do próximo. São todos uns ladrões, assaltantes e agiotas públicos. Também existem os que compram todo o estoque de algum bem ou mercadoria numa região ou numa cidade para tê-lo em seu exclusivo poder e então fixar o preço, elevá-lo e vender tão caro quanto queiram ou possam. Quando não conseguem estabelecer seu monopólio, porque há outros que também dispõem da mesma mercadoria e dos mesmos bens, eles passam a oferecer sua mercadoria tão barato, que os concorrentes não conseguem acompanhar, forçando-os assim a deixar de vender ou a se arruinarem, vendendo tão barato quanto aqueles. Na verdade, não haveria necessidade de relatar esses abusos, mas eu os incluo para que se veja quanta malandragem existe nos negócios comerciais, e para que todos saibam o que se passa no mundo e se acautelem contra essa categoria perigosa.”

Repórter– O mesmo Salomão, que o doutor citou há pouco, condena as balanças desonestas e os pesos adulterados (Pv 11.1; 20.23). Há esse problema na Alemanha?

Lutero – “Não há mercadoria da qual não se saiba tirar vantagem na medida, na contagem, na vara métrica, no volume ou peso. Às vezes dão uma cor que ela não tem por si mesma. É uma fraude atrás da outra. Até falência fraudulenta existe. Os que a cometem costumam se esconder num convento até a poeira assentar. Tudo fede a ganância, tudo está afogado e mergulhado num grande mar de lama. Já não tenho mais esperanças de que se possa melhorar tudo isso. Na verdade, tudo está tão sobrecarregado com maldade e fraudes, que deixa de ser sustentável a longo prazo, tendo que ruir por si mesmo.”

Repórter – Quem rouba mais: os ladrões de estrada ou os comerciantes desonestos?

Lutero – “Os comerciantes roubam todo o mundo diariamente enquanto um cavaleiro pirata assalta um ou dois uma ou duas vezes por ano.”

Repórter – E o governo não faz nada?

Lutero– “Reis e príncipes deveriam cuidar disso e coibi-lo com justiça rigorosa. Porém ouço que eles são farinha do mesmo saco. As coisas acontecem como em Israel na época do profeta Isaías: ‘os seus chefes são bandidos, cúmplices de ladrões, todos eles gostam de suborno, correm atrás de presentes’ (Is 1.23). Enquanto isso mandam enforcar ladrões que furtam um ou meio florim, e transitam com aqueles que saqueiam o mundo inteiro e roubam mais que todos os outros. Assim se confirma o adágio: ‘Os ladrões graúdos enforcam os miúdos’. Ou, como dizia o senador romano Catão: ‘Os ladrões pequenos estão em grilhões nas cadeias, mas os ladrões notórios trajam ouro e seda’.”

Repórter – Como vivem os pobres hoje na Alemanha?

Lutero – Nossas cidades estão sendo invadidas por mendigos itinerantes em busca de auxílio de instituições de previdência social urbanas e eclesiásticas. Os pobres querem pelo menos a oportunidade de esmolar num meio com maior concentração urbana. Desde o final do século passado, as cidades européias vêm sofrendo as conseqüências do crescente empobrecimento de um contigente considerável da população.

Repórter– O doutor espera algum juízo da parte de Deus?

Lutero – “Deus fará o que diz através do profeta Ezequiel: ‘Como se ajunta prata, cobre, ferro, chumbo e estanho dentro de uma fornalha e se atiça o fogo para derretê-los, assim vos ajuntarei no furor da minha cólera e vos colocarei dentro para vos fundir’ (Ez 22.20). Deus fundirá príncipes e negociantes, um ladrão com o outro, como chumbo e estanho, como quando se incinera uma cidade, de modo a não sobrarem nem príncipes nem comerciantes. Tudo isso, temo eu, está prestes a acontecer, porque, de qualquer forma, sequer estamos pensando em nos corrigirmos, por maior que seja o pecado e a injustiça. Assim ele também não pode deixar impune a injustiça. Sei muito bem que o que estou dizendo não vai agradar. Talvez ignorem tudo e continuem do jeito que são. Eu mesmo, porém, estou desculpado e fiz minha parte, para que, quando Deus vier com o açoite, se enxergue que o merecemos com justiça. Se com isso eu tiver instruído ao menos uma alma, resgatando-a da voragem, não terei trabalhado em vão.”

Repórter
– No início desta entrevista o doutor fez menção da casa bancária de um certo Fugger, de Augsburgo. Quem é ele?

Lutero – Jacó Fugger nasceu 24 anos antes de mim. Ele enriqueceu a partir de empreendimentos no setor da mineração de prata e cobre nas regiões do Tirol e da fronteira húngaro-eslovaca. Fugger provocou a falência das empresas de extração de cobre e as comprou por preço irrisório. Colocou em situação de dependência os governantes desses territórios, financiando seus empreendimentos. Ao morrer, em 1525, deixou cerca de 2 milhões de florins. Parte desse dinheiro tem sido usada por seu sobrinho Anton Fugger para bancar expedições de invasão, conquista e colonização por europeus na América do Sul, México e Índia, empreendimentos que têm trazido, em alguns casos, lucros de até mil por cento.

Referências:
Martinho Lutero — Obras Selecionadas. vol. V. Tradução de Walter O. Schlupp, Ilson Kayser e Walter Altmann. (Editora Sinodal e Concórdia Editora).

Catecismo Menor de Martinho Lutero. 6. ed. (Editora Sinodal).

FONTE: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=485&secMestre=541&sec=555&num_edicao=281





sexta-feira, 2 de abril de 2010

Como escapar do fim do mundo



Como escapar do fim do mundo


Texto de Leonardo Boff – Teólogo


Chegamos a um tal acúmulo de crises que, conjugadas, podem pôr fim a este tipo de mundo que nos últimos séculos o Ocidente impôs a todo o globo. Trata-se de uma crise de civilização e de paradigma de relação com o conjunto dos ecossistemas que compõem o planeta Terra, relação de conquista e de dominação. Não temos tempo para acobertamentos, meias-verdades ou simplesmente negação daquilo que está à vista de todos. O fato é que assim como está, a humanidade não pode continuar. Caso contrario, vai ao encontro de um colapso coletivo da espécie. É tempo de balanço face à catástrofe previsível.


Inspira-nos uma escola de historiadores bíblicos que vem sob o nome de escola deuteronomista, derivada do livro do Deuteronômio que narra a tomada de Israel e a entronização de chefes tribais (juízes). A escola refletiu sobre 500 anos da história de Israel, a idade do Brasil, fazendo uma espécie de balanço das várias catástrofes políticas havidas, especialmente, a do exílio babilônico. Segue um esquema, diria, quase mecânico: o povo rompe a aliança; Deus castiga; o povo aprende a lição e reencontra o rumo certo; Deus abençoa e faz surgir governantes sábios.


Usando um discurso secular, apliquemos, analogamente, o mesmo esquema à presente situação: a humanidade rompeu a aliança de harmonia com a natureza; esta a castigou com secas, inundações, tufões e mudanças climáticas; a humanidade tirou as lições destes cataclismos e definiu um outro rumo para o futuro; a natureza resgatada favorece o surgimento de governos que mantém a aliança originária de harmonia natureza-humanidade.

Ocorre que apenas uma parte deste esquema está sendo vivida: estamos tirando algumas lições dos transtornos globais. Muitos se dão conta de que temos que mudar os fundamentos da convivência humana e com a Terra, organismo vivo doente e incapaz de se auto-regular. Essa mudança deve possuir uma função terapêutica: salvar a Terra e a Humanidade que se condicionam mutuamente. Outros, no entanto, querem continuar pela mesma rota que os conduziu ao desastre atual. O fato é que precisamos escutar aqueles que com consciência da situação nos estão oferecendo as melhores propostas. Eles não se encontram nos centros do poder decisório do Império. Estão na periferia, no universo dos pobres, aqueles que para sobreviver têm que sonhar, sonhos de vida e de esperança.


Uma destas vozes é de um indígena, o Presidente da Bolívia, Evo Morales. Ele escreveu, agora em novembro, uma carta aberta à Convenção da ONU sobre mudanças climáticas na Polônia. Escutando o chamado da Pacha Mama conclama:


“Necessitamos de uma Organização Mundial do Meio Ambiente e da Mudança Climática, a qual se subordinem as organizações comerciais e financeiras multilaterais, para promover um modelo distinto de desenvolvimento, amigável com a natureza e que resolva os graves problemas da pobreza. Esta organização tem que contar com mecanismos efetivos de implantação de programas, verificação e sanção para garantir o cumprimento dos acordos presentes e futuros… A humanidade é capaz de salvar o planeta se recuperar os princípios da solidariedade, da complementaridade e da harmonia com a natureza, em contraposição ao império da competição, do lucro e do consumismo dos recursos naturais.”


Evo Morales é indígena de um pais pobre. Temo que ele conheça o destino da triste história narrada pelo livro do Eclesiastes: “Um rei poderoso marchou sobre uma pequena cidade; cercou-a e levantou contra ela grandes obras de assédio. Havia na cidade um homem pobre, porém sábio que poderia ter salvado a cidade. Mas ninguém se lembrou daquele homem pobre porque a sabedoria do pobre é desprezada” (9,14-15). Que isso não se repita de novo.


Fonte: http://www.cesep.org.br/







quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Existência de Deus


A Existência de Deus


Argumentação metafísica sobre a existência de Deus como criado do Universo.


1- É necessária a existência de uma causa primaria (primeira). Ou seja, tem que existir algo ou alguém que deu origem ao Universo.


2- É necessário que a causa primasse seja eterna, ou seja, não tenha origem, sempre tenha existido e seja o principio de tudo. E que não dependa de nada ou ninguém para existir.


3- Os seres do universo não podem existir por si só, ou seja, sempre dependem de algum outro ser. Por tanto é necessário que exista um ser que seja a razão de existir todos os demais seres e que ele exista por si, e pelo qual todos os outros existam.


4- O grau de perfeição dos seres; e os diferentes graus de beleza, qualidade e características tão perfeitas dos mais diferentes seres, exige a existência de uma beleza e perfeição absoluta e infinita.


5- A forma organizada do mundo. Ou seja, o universo, a natureza e o ser humano estão tão completamente organizados que tem que existir uma inteligência ordenada que de sentido ao mundo


O mundo e o ser humano não podem ter surgido do caso.


Fonte: JOLIVET . R. Curso de Filosofia. Editora Agir, Rio de Janeiro, 1968.