História e Bíblia

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Raça Humana



A Raça Humana
Gilberto Gil

A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus

A raça humana é a ferida acesa
Uma beleza, uma podridão
O fogo eterno e a morte
A morte e a ressurreição

A raça humana é o cristal de lágrima
Da lavra da solidão
Da mina, cujo mapa
Traz na palma da mão

A raça humana risca, rabisca, pinta
A tinta, a lápis, carvão ou giz
O rosto da saudade
Que traz do gênesis
Dessa semana santa
Entre parênteses
Desse divino oásis
Da grande apoteose
Da perfeição divina
Na grande síntese

A raça humana é
Uma semana
Do trabalho de Deus
A raça humana é
Uma semana

domingo, 9 de outubro de 2011

Os loucos, os tolos e os deuses


Os loucos, os tolos e os deuses.
Ed René Kivtz

Limite para liberdade soa como contra senso. Mas não é. A razão é simples: dividimos o mundo com mais de 6 bilhões de pessoas. Quem leu Freud sabe disso: “a civilização descreve a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos”. Em outras palavras, para sobreviver num universo hostil, cujas forças da natureza espalham sofrimento e desolação, e em meio às gentes dominadas por paixões e com tendências à violência, o ser humano precisa engolir o sapo de aceitar limites à sua liberdade. Não é sem razão que muita gente vive com ânsias de vômito.
               
A questão, portanto, é distinguir quais são os tais limites à liberdade que devem ser aceitos daqueles contra os quais devemos nos rebelar. Há os que escolhem a própria consciência como paradigma único: eu sou assim; faço o que quero; não admito negociar meus valores; não me submeto a regras idiotas; não me curvo às autoridades; me recuso a manter minha consciência nas fronteiras do socialmente aceitável e politicamente correto. Muitos desses foram loucos, ou rebeldes sem causa, idiotinhas vendendo a alma pelos seus 15 minutos de fama, alguns tantos movidos pelos demônios dos infernos, e outros inescrupulosos prepotentes, coisa de mau caratismo mesmo. Mas não há como negar que muitos desses que pensaram e viveram fora da caixa foram profetas construtores de novos paradigmas de civilização, personalidades à frente de seu tempo que hoje reverenciamos, e um deles até hoje é considerado Deus – Jesus de Nazaré. Esses últimos tinham em comum que quase nenhum escolheu ser quem foi, quase todos lutaram com todas as forças tentando negar o que eram e, com uma exceção, jamais imaginaram que no futuro ocupariam a prateleira das personalidades inspirativas da humanidade. Quem acredita que é, quase sempre não é.

A maioria dos mortais, entretanto, escolhe viver nos limites da média dos valores consensados por suas respectivas sociedades. Os lúcidos questionam os valores coletivos à luz de seus valores pessoais e aceitam o fato inevitável de que o jogo comunitário exige três passos para frente, dois passos para trás, e humildemente submetem suas convicções particulares ao crivo coletivo, acreditando que no conflito e no debate das ideias, a média dos valores consensados vai sendo qualificada no esforço de todos pelo bem comum.

Os limites às liberdades individuais são definidos, portanto, pela média dos valores consensados por uma sociedade. Cada sociedade tem seus valores considerados sagrados ou intocáveis. Em 2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou as 12 caricaturas intituladas “Os rostos de Maomé” que, em janeiro de 2006, foram também publicadas na revista norueguesa Magazinet. A polêmica foi grande e os grupos islâmicos radicais protestaram com veemência o fato de alguém ousar fazer humor com Allah e Maomé. O mesmo acontece com a comunidade judaica que legitimamente protesta contra o desrespeito à memória do Holocausto, e com os negros que corretamente se ofendem com as piadas de cunho racista. Mas no Brasil sobram anedotas com o Cristo crucificado. A diferença é clara: cada sociedade tem sua média consensada de valores considerados sagrados, seus níveis de tolerância para as diferentes maneiras como podem ou devem ser tratados, e sua índole peculiar que permite maior e menor flexibilidade na manipulação de seus afetos. Essa é a razão porque os brasileiros somos capazes de chorar o luto dos nossos ídolos e contar piadas a respeito deles ao mesmo tempo. Ayrton Senna recebeu tanto o melhor do nosso riso quanto de nossas lágrimas.

Mas uma coisa não se pode negar. Quando alguém cruza a linha e resvala, ainda que irresponsável e displicentemente, no que é considerado sagrado e intocável por uma sociedade, qualquer que seja ela, a resposta é imediata e contundente. O comentário de Rafinha Bastos a respeito de Wanessa Camargo e seu ventre materno extrapolou os limites aceitáveis. No Brasil, você pode contar piada sobre Jesus, José e Maria, mas não pode fazer graça com pedofilia. Quem não respeita limites impostos pelo consenso para a sua liberdade, cedo ou tarde acaba crucificado. O tempo se encarrega de mostrar se o morto será esquecido como louco, sepultado como tolo, ou adorado como Deus.




quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A RESOLUÇÃO - Brecht




A RESOLUÇÃO
(Bertold Brecht )

I
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

II
Considerando que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

III
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de fica.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

IV
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

V
Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

VI
Considerando que o que o governo nos promete sempre
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões -
Outra linguagem não conseguem compreender -
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!